
SÓ FALTOU O TARKUS
No sábado passado (18/01) a Carl Palmer Band aterrissou na tenda montada ao lado do CCBB do Rio de Janeiro para um show dentro da programação da Mostra Internacional de Rock Progressivo. Oportunidade única para os aficionados desse estilo que, depois do auge nos anos 70, caiu no descrédito em tempos de música previsível, preguiçosa e de fácil digestão, com pouca – ou nenhuma - elaboração rítmica e conceitual.
Já nos arredores do evento
era possível identificar os cabelos longos – dos que conseguiram consevá-los - e
grisalhos que se esparramavam timidamente sobre as indefectíveis t shirts com estampas de grupos como
Yes, Pink Floyd, Gentle Giant, Jethro Tull e outros jurássicos dando um clima
de deja vu que só era contestado pela
presença também significativa de jovens e até crianças que, provavelmente,
acompanhavam seus pais, tios e avôs.
Lotação esgotada, casa cheia
e muita expectativa até que Carl Palmer subiu ao palco acompanhado dos jovens
músicos Paul Bielatowicz (guitarra) e Simon
Fitzpatrick (baixo). Em uma forma física invejável para um senhor
prestes a completar 64 anos, Palmer desceu o braço e as diferenças etárias no
palco e na plateia desapareceram como em passe de mágica.
O entrosamento da banda e o
virtuosismo dos músicos que acompanhavam Palmer já puderam ser constatados nos
primeiros acordes, mas não diminuíram a expectativa dos fãs do Emerson, Lake
& Palmer que esperavam ver um revival
do repertório da banda, um dos mais vitoriosos e marcantes grupos de rock
progressivo de todos os tempos. Mas o Power trio montado por Palmer foi além.
Números como Knife Edge
(ELP-1970) e Hoedown (Trilogy-1972) mostraram o franzino Paul Bielatowicz se agigantando em novos arranjos sem
a pretensão de ocupar espaços deixados pela ausência do órgão Hammond e do
sintetizador Moog de Keith Emerson que foram a marca registrada do som do ELP.
E a opção de partir para um som mais pesado e original, embora ainda marcado
pelas tradicionais convenções extraídas da música clássica, parece que foi a
escolha certa. Foi possível confirmar isso a partir da execução primorosa do
movimento O Fortuna da ópera Carmina Burana, que levantou os primeiros aplausos
realmente enlouquecidos da plateia.

Para os que
acreditam que o rock progressivo é um estilo superado e chato, com suas suítes
lisérgicas intermináveis e estéreis, a Carl Palmer Band mostrou aos cariocas
que diante de tanta mediocridade que reina na música mundial, uma progressive band pode fazer algo muito
importante e necessário: surpreender-nos positivamente, com um virtuosismo que
não é uma simples masturbação musical, mas que se comunica com o público e nos
tira do conforto e do lugar comum. Showzaço onde Carl Palmer exibiu talento e
simpatia, autografando pôsteres e CDs após a apresentação. Única resalva foi a
ausência, apesar de inúmeros pedidos urrados pela plateia e por mim, de pelo
menos um trecho do álbum Tarkus (1971), em minha opinião, o melhor do ELP.
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